Mãe Elda de Oxossi: Uma Vida Dedicada ao Candomblé, à Cultura e à Comunidade

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Na tarde desta segunda-feira, 12 de maio de 2025, a cidade do Recife perdeu uma grande referência espiritual e cultural com o falecimento de Mãe Elda de Oxossi, aos 76 anos. Mãe Elda, também conhecida como Elda Viana, foi a última mulher coroada como Rainha do Rosário na Igreja do Rosário dos Homens Pretos do Recife, título que carrega um significado profundo no contexto das tradições afro-brasileiras. Sua morte marca o fim de um ciclo importante de mulheres líderes dentro da religião e um momento de reflexão sobre sua vida dedicada à preservação das culturas afro-brasileiras e ao fortalecimento das comunidades periféricas da cidade.

Mãe Elda de Oxossi, líder espiritual da Nação do Maracatu Porto Rico, foi uma das figuras mais respeitadas e influentes do Candomblé no Recife. Além de sua atuação como Yalorixá, ela também se destacou como educadora e conselheira comunitária. Com um trabalho incansável em seu terreiro, ela ensinava os fundamentos do Candomblé, promovendo um espaço de acolhimento, aprendizado e fortalecimento para todas as pessoas que buscavam entender e vivenciar a espiritualidade afro-brasileira. Sua abordagem integrada entre religião, educação e ativismo cultural fez dela uma figura chave no movimento de valorização das tradições negras.

Ao longo de sua vida, Mãe Elda de Oxossi não apenas guiou seus filhos e filhas de santo no caminho da fé, mas também desempenhou um papel crucial em ações voltadas para a inclusão social e a valorização da cultura popular. Em seu terreiro, promovia atividades educativas, rodas de diálogo e ações voltadas para o fortalecimento da presença negra nos espaços públicos e culturais da cidade. Ela se tornou um ícone para mulheres de terreiro, jovens da periferia e militantes da cultura popular, sendo admirada por sua coragem em enfrentar os desafios sociais e culturais impostos pela sociedade.

Sua morte deixou um vazio profundo na comunidade religiosa e cultural do Recife. O Ministério dos Direitos Humanos e Cidadania (MDHC) emitiu uma nota de pesar, destacando o legado de Mãe Elda como uma inspiração para todos que defendem os direitos humanos e a justiça social. “Seu legado permanecerá como inspiração para todos aqueles que defendem os direitos humanos”, afirmou o MDHC, ressaltando o impacto de sua atuação na promoção dos direitos das mulheres negras, dos povos de terreiro e das comunidades periféricas.

A Prefeitura do Recife também se solidarizou com a perda, por meio da Secretaria de Cultura e da Fundação de Cultura Cidade do Recife. A prefeitura reconheceu o papel de Mãe Elda como liderança espiritual e cultural, destacando sua contribuição inestimável para a preservação das tradições afro-brasileiras e a promoção da cultura negra no Recife. “Mãe Elda deixa fincadas e florescidas as raízes de seu povo, sua fé e suas festas entre as alegrias e histórias mais recifenses”, disse a nota oficial da Prefeitura do Recife.

O velório de Mãe Elda de Oxossi acontece nesta segunda-feira, na sede da Nação Porto Rico, onde ela foi matriarca e líder espiritual por muitos anos. Esse local, que foi palco de inúmeros rituais e celebrações culturais, agora serve de espaço para que amigos, familiares e seguidores se despeçam de uma das figuras mais importantes da história cultural e religiosa do Recife. O sepultamento está marcado para esta terça-feira, 13 de maio, no Cemitério de Santo Amaro, em um ato de despedida que marcará a cidade e as comunidades de fé.

A partida de Mãe Elda de Oxossi não representa apenas a perda de uma líder religiosa, mas também o fim de uma era de mulheres fortes à frente das religiões de matriz africana no Recife. A coroação de Mãe Elda como Rainha do Rosário em 1980 foi um marco na história das religiões afro-brasileiras e, ao longo das décadas seguintes, ela se tornou uma figura central no movimento de valorização da cultura negra e no fortalecimento da identidade das comunidades periféricas. Sua história é um reflexo do esforço contínuo de resistência e preservação das raízes africanas no Brasil.

Mãe Elda de Oxossi deixou um legado indiscutível para o Recife e para o Brasil. Sua contribuição para o Candomblé, sua luta por mais espaços para as mulheres negras e sua dedicação incansável à educação e à cultura popular farão dela uma figura inesquecível. Ela representa a força e a resiliência das mulheres negras no Brasil, cuja presença e liderança continuam a ser fundamentais para a transformação social e cultural do país. O Recife, assim como muitas outras cidades brasileiras, perde não apenas uma líder espiritual, mas também uma grande defensora das tradições afro-brasileiras e da justiça social.

Autor: Fedorov Yudin Variant

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